Como jogadores já vestiram as camisolas dos dois clubes, já foram leões, já foram águias, mas foi com a camisola encarnada que foram mais felizes nos derbys. Falo de João Pinto e Simão. Falo também em Carlos Martins que recentemente trocou o Huelva pelo Benfica e que fez toda a sua formação no SCP. Todos eles com histórias diferentes.
João Pinto
A precocidade sempre caracterizou João Pinto. Fez-se cedo homem, cedo foi pai, também cedo campeão de futebol, cedo ainda ícone do Benfica. Tudo tão cedo, tão cedo, que cedo abandonou o Benfica, apesar das oito épocas ininterruptas que fez, cinco das quais como capitão.
No Bairro do Falcão, na cidade do Porto, começou a subir-lhe a temperatura da bola, do jogo. “Só imaginava uma coisa na vida: ser jogador de futebol. Se não o fosse seria, certamente, um frustrado. Era um puto reguila, vivia num bairro de gente pobre, jogava futebol, fazia algumas patifarias. As maiores? Sei lá, roubar fruta nos pomares vizinhos, subindo árvores, desafiando o perigo. E, vivendo num bairro camarário, apesar de não ser de barracas ou de casas degradadas, percebi muito cedo como a pobreza dói. Mas, nunca me faltou uma bola de futebol e com uma bola de futebol eu sentia-me a criança mais feliz do Mundo”. Aos oito anos, apresentou-se nas Antas com a esperança de aprender, na escola de Oliveira e Gomes, o mesmo que Chalana ou mais tarde Futre, o quarteto nacional que sempre o deixou atónito. “Alguém olhou para mim com desconfiança, dizendo, quase em jeito de gozo, que voltasse mais tarde”. Jamais o fez.
Prosseguiu viagem. Optou pelo Águias da Areosa e um belo dia fez, em Pedrouços, três golos ao FC Porto, que a sede de vingança, essa, torturava-o. Aproximou-se o Boavista, com passe social e dinheiro para os estudos. Respondeu afirmativamente. Dois dias depois, à investida portista, o não foi rotundo.
Na frutuosa oficina do Bessa, João Pinto amadureceu. Dele não prescindia a Selecção Nacional, qualquer que fosse o escalão etário. À fama chegou ao sagrar-se campeão do Mundo em Riade, na Arábia Saudita. Também cedo, como tudo o resto, tinha apenas 18 anos, partiu para Madrid, com a fixação de jogar ao lado de Paulo Futre, no clube do polémico Jesus Gil e Gil. Acabou por ir parar ao Atlético Madrileño, para pouco depois ser devolvido à procedência. No Boavista só ficou uma temporada, mas a tempo de ainda bater o FC Porto, em 91/92, na final da Taça de Portugal. E de bisar no Campeonato do Mundo de juniores, feito único no panorama do futebol internacional.
Por 500 mil contos, Jorge de Brito convenceu Valentim Loureiro a desfazer-se da jóia da coroa axadrezada. Já no Benfica, conquistou de pronto mais uma Taça, uma vez que o Nacional se escapou num dos derradeiros suspiros. Com o ídolo Paulo Futre ao seu lado. Mais Veloso, Mozer, Vítor Paneira. Mais dois jovens em franca ascensão, Paulo Sousa e Rui Costa.
No inicio do Verão de 93, uma onda de autoflagelo abateu-se sobre a Luz. Antes não passasse de uma rábula, mas a coisa foi mesmo séria. Sem ver a cor do dinheiro, Pacheco e Sousa rescindiram os contratos e passaram-se para o eterno rival. João Pinto também denunciou o contrato e comprometeu-se com o Sporting. Em Torremolinos, onde se encontrava de férias, foi resgatado por um convincente Jorge de Brito. Regressou. Na Sala de Imprensa do parque de jogos benfiquista teve uma recepção apoteótica… como se novo recruta fosse. “Burlão”, chamar-lhe-ia Sousa Cintra.
O génio de João Pinto, continuou a deslumbrar. Diziam os críticos, não poucas vezes, que às costas carregava a equipa.
O jogo da vida de João Pinto foi um derby em Alvalade. Marcou três golos e assistiu para dois, Portugal rendeu-se a João Pinto, o menino que nunca deixou de o ser, mas que passou a valer ouro. Foi a 14 de Maio de 1994, na recta final e decisiva do campeonato. O Sporting foi goleado por 3-6, o Benfica foi campeão e até hoje tamanho resultado entre os rivais de Lisboa não mais se registou.
No final do jogo, foi considerado o melhor em campo. E não poderia ser de outro modo. João Pinto empatou o desafio por duas vezes na primeira parte, marcou o terceiro que colocava os encarnados em vantagem ao intervalo e, não se dando por satisfeito, assistiu Isaías em mais dois golos. Assim nasceu uma estrela.
A 18 de Maio de 1996 assegurou ao Benfica mais uma Taça de Portugal, a última de águia ao peito. Marcou o segundo e terceiro golos de um 3-1 final. Dois anos depois, a 21 de Fevereiro de 1998, novamente em Alvalade, marcou o quarto golo da sua equipa que transformou a derrota em mais uma... goleada (4-1).
João Pinto marcou oito golos em mais de 20 derbies disputados com as camisolas do Benfica (7) e do Sporting (1), mas estes foram apenas um complemento da sua genialidade dentro de campo, essa sim, um consolo para quem assistia e tinha o privilégio de testemunhar tanta frieza de raciocínio num corpo tão jovem, franzino e imensamente perigoso.
Depois de atritos com Vale e Azevedo João Pinto troca a Luz por Alvalade, para tristeza de muitos benfiquistas e alegria de sportinguistas.
De verde e branco formou com Jardel uma dupla letal, ele a assistir (marcou apenas nove) e o brasileiro a finalizar, numa época, 2001/02, que culminou com o seu segundo campeonato nacional e o segundo também do Sporting, no espaço de três anos depois de 18 em jejum. Conquistou, ainda, a Taça de Portugal.
Títulos:
Benfica: 1 (Campeonato Nacional) e 2 (Taça de Portugal).
Sporting: 1 (Campeonato Nacional) e 1 (Taça de Portugal).
Simão
Começou a jogar no Sporting Clube de Portugal e depois foi transferido para o FC Barcelona.
Apesar de suplente, foi regularmente utilizado no FC Barcelona, que pagou 15 milhões de euros pela sua transferência. Conseguiu um lugar na equipa durante a temporada de 2000/01, quando alinhou em todos os encontros do Barcelona na UEFA Champions League. No início da segunda época em Barcelona e quanto começava a afirmar-se como titular, sofreu uma lesão muscular que o afastou do relvado durante quase dois meses, tendo então perdido a titularidade para o holandês Zenden.
No entanto, regressou ao futebol luso em Agosto de 2001, ao ser contratado pelo SL Benfica, num acordo que rondou os 12 milhões de euros, tendo sido a transferência mais cara da história do clube. Então com 21 anos de idade, Simão assinou um contrato válido por três anos com o clube da Luz. Em 2002/03, marcou 18 golos em 33 jogos da Superliga, depois de apontar 11 tentos em 26 partidas na época anterior. Capitaneou o Benfica na maioria dos 31 jogos da liga cumpridos em 2003/04, após Hélder ter perdido a titularidade na equipa de José António Camacho, e marcou, de cabeça, o golo da vitória na final da Taça de Portugal frente ao FC Porto.
Totalista, guiou o Benfica à conquista do seu primeiro título de campeão em 11 anos, tendo apontado 20 golos.
A 28 de Outubro de 2006 cumpriu 200 jogos na Liga Nacional pelo Sport Lisboa e Benfica. Nesta época, Simão Sabrosa foi eleito, pelos treinadores da liga o Melhor Jogador da Época.
Foi a figura do Benfica do inicio do século XXI. Carregou consigo o peso de ser “capitão” de uma equipa como o Benfica. Lutador, ambicioso e marcador, veio para a Luz vindo do Barcelona e era visto como um “lagarto” infiltrado, mas rapidamente se tornou um dos meninos bonitos da Luz e já provou ser um profissional que defende ao máximo as cores do clube que representa. Apesar de pretendido por campeonatos mais poderosos, Simão permaneceu no Benfica durante 6 épocas, saindo no auge da carreira para o Atlético de Madrid.
Actualmente joga no Atlético de Madrid e na Selecção Portuguesa de Futebol.
Como referido anteriormente foi no Benfica que Simão adquiriu as suas maiores conquistas individualmente e colectivamente em Portugal. Conquistou tudo o que havia a conquistar, foi acarinhado pelos adeptos e adquiriu o clube como o seu, amando-o como se sempre tivesse jogado no Benfica. No Sporting jogou três épocas com sénior. É nos derbies de Lisboa, que os jogadores mostram a sua verdadeira cor, e se duvidas houvesse Simão por inúmeras vezes mostrou que para ele vencer o rival de Lisboa era um prazer supremo, ainda para mais quando marcava.
Títulos
• Supertaça Portuguesa (2005, SL Benfica)
• Super Liga Portuguesa (2005, SL Benfica)
• Taça de Portugal (2004, SL Benfica)
• Campeonato Europeu de Futebol Sub-17, (1996, Portugal)
Carlos Martins
Antigo jogador do Sporting, actualmente o médio actua nos rivais do Sport Lisboa e Benfica, transferindo-se para a Luz vindo dos espanhóis do Recreativo de Huelva a troco de 3 milhões de euros. Ganhou, desde os tempos do Sporting, a fama de pé-canhão, que mantém até aos dias de hoje.
Vindo das camadas jovens, começou a carreira de profissional na época de 2000/2001 pelo Sporting. Nas épocas de 2001/02 e 2002/03 esteve por empréstimo no Campomaiorense e Académica, respectivamente.
Carlos Martins foi lançado na equipa principal do Sporting pelo treinador Augusto Inácio em 2000, num jogo entre o Sporting e o Alverca a contar para a Primeira Liga Portuguesa que terminou empatado1-1.
Foi um dos reforços do Recreativo Huelva para a época 2007-2008, naquela que foi a sua primeira aventura no estrangeiro.
Depois de 2 temporadas menos boas, Carlos Martins esteve em grande plano na equipa. Foi um dos jogadores mais utilizados, tendo jogado 32 jogos (um total de 2437 minutos) e marcado 6 golos.
Em Junho de 2008 assinou contrato com o Benfica de cinco anos. O Benfica pagou 3 milhões de euros, sendo que 40% da transferência (1,2 milhões de euros) foi para os cofres leoninos. Carlos Martins ficou ainda com uma cláusula de rescisão afixada em 20 milhões de euros.
Até ao momento cumpriu duas épocas no Benfica, contra seis épocas no Sporting. É um jogador vindo da casa do leão, mas que se vê sentir com muita força a camisola encarnada, como foi por exemplo no festejo da época transacta quando efectuou o passe para Sidnei marcar ao Sporting e explodiu de alegria, levando a mão ao peito e beijando o símbolo que agora ostenta.
Foi ao serviço do Benfica que conquistou o seu primeiro título oficial, curiosamente também contra o Sporting, onde mais uma vez demonstrou imensa alegria em levar a melhor sobre o antigo clube.
Títulos
Benfica - Taça da Liga: 2008/09
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